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Pinturas Corporais indígenas: Expressão Espiritual

Foto do escritor: Aldeia da VidaAldeia da Vida


As pinturas corporais dos povos indígenas Yawanawa, na Amazônia brasileira, são muito mais do que uma simples tradição artística. Elas representam uma profunda conexão com a espiritualidade e a natureza, refletindo a essência da cosmologia desse povo ancestral.


Estão escritas em nossas memórias e registradas em nossos corações as palavras ditas pelos nossos antigos avós, “sepã ikashe, paxti, kenewahãyniy”. Palavras recomendadas a filhos e netos que querem dizer: faça a pintura em seu corpo com urucum misturado com sepa. ( Vinnya Yawanawa)



Kene é o nome que é dado para cada grafismo que é pintado nas partes do nosso corpo e em nossas faces. A pintura nas partes do corpo e na face nos trazem proteção dos maus espíritos, das doenças e das más intenções do próximo.

A pintura na face e no corpo significam a beleza e o orgulho das suas origens. Os desenhos Yawanawá são variados e feitos com muita criatividade.


Segundo a cosmovisão Yawanawá, “se você não se pintar, o maus espíritos podem te ver”. Dentro da aldeia, quem faz freqüentemente as pinturas são as mulheres mais jovens e os tipos de desenhos apreciados são vashu Shaka (escama de tambuatá), runã mapu (cabeça de sucuri) itxyka kene (pintura da cobra coral), paspi (ponta de lança), vesãru (pintura da cobra salamanta), axuyka kene (pintura da cobra axuyka), mãnã puyãwma kene (pintura da jibóia); além das misturas de uma pintura com as outras que dão origem a pinturas diferentes.


Atualmente, as pinturas corporais e os desenhos corporais Yawanawá são criados através de inspirações e sonhos no processo de pajelança das novas gerações.



Rituais e Tradições das Pinturas Corporais


Em uma cerimônia ou festa tradicional, se não aparecerem as cores vermelha (urucum) , preta/azul (Jenipapo), a festa não está boa para os Yawanawá. Essa geração traz consigo a marca em seu sangue, em seu espírito e em seus corações, da verdadeira imagem da magia das cores tradicionais de seus ancestrais. Cada traçado das cores que atravessam as costas, os braços, os peitos e o rosto, é um símbolo de um registro deixado pelos antigos há centenas de anos.


O vermelho vem do urucum e os velhos nos contam que quando uma mulher traça com a tintura do urucum seu corpo e sua face, ela orgulhosamente passa diante de outras mulheres mostrando a beleza de seu corpo e o perfume do cheiro do urucum. O urucum preparado recebe o nome de paxti txita.



Preservando uma Tradição Ancestral


Transmissão de Conhecimento


A preservação das pinturas corporais Yawanawa depende da transmissão contínua desse conhecimento ancestral para as novas gerações, garantindo a manutenção dessa prática sagrada.


Sustentabilidade Ambiental


O uso sustentável dos recursos naturais, como o jenipapo e o urucum, é essencial para garantir a perpetuação dessa tradição em harmonia com o ecossistema amazônico.


Preservação Cultural


O compartilhamento desses conhecimentos com todos nós representa uma ponte valiosa entre as tradições milenares indígenas e a busca dos povos urbanos por reconexão com suas raízes e com a espiritualidade.


Essa troca nos ensina não apenas a utilizar de forma respeitosa e consciente as plantas sagradas, mas também a compreender a profundidade das práticas ancestrais.


Ao incorporar esses ensinamentos na construção de um caminho de transformação, equilíbrio e proteção espiritual no universo das medicinas da floresta, honramos essas tradições e as integramos de forma harmoniosa em nossas vidas.


É através dessa união de saberes que podemos valorizar e preservar esses conhecimentos ancestrais, fortalecendo os laços entre as culturas indígenas e as sociedades urbanas.



Um ato de resistência cultural


Os saberes tradicionais indígenas são pilares de um conhecimento milenar que transcende gerações, guardando a essência de práticas espirituais, curativas e culturais profundamente conectadas à natureza. No coração dessas tradições está o respeito pela Terra e pelos elementos que a compõem, uma sabedoria ancestral que ensina como viver em harmonia com o mundo natural.


A cultura ayahuasqueira, que também emerge de raízes ancestrais e se expande para além das fronteiras das comunidades indígenas, encontra nesse legado um terreno fértil para o diálogo. O intercâmbio cultural entre povos originários e praticantes da ayahuasca é uma ponte que valoriza as tradições indígenas, enquanto oferece novos caminhos para o entendimento e a aplicação dessas práticas no contexto contemporâneo.


Valorização dos Saberes Tradicionais


A transmissão de conhecimentos ancestrais, como o uso cerimonial de plantas sagradas, as técnicas de pintura corporal, os cantos (rezos) e as histórias, é um ato fundamental de resistência cultural dos povos indígenas. Ao compartilhar esses saberes tradicionais, eles não apenas preservam suas ricas tradições, mas também educam o mundo sobre a importância do equilíbrio entre a vida urbana e as tradições do povo da floresta.


O reconhecimento dessas práticas milenares é essencial para valorizar os povos originários como protagonistas de um conhecimento único e insubstituível. A bebida sagrada da ayahuasca, por exemplo, carrega consigo os ensinamentos espirituais de comunidades indígenas como os Yawanawa, Huni Kuin, Noke Kuin, entre outros, que a utilizam como uma ponte para acessar dimensões espirituais profundas.


É tempo de conexões:


O encontro entre praticantes da ayahuasca e as tradições indígenas cria oportunidades para o enriquecimento mútuo. Por um lado, a cultura ayahuasqueira traz uma abertura para novas formas de difusão dessas práticas, ao mesmo tempo em que respeita suas origens. Por outro, os povos indígenas têm a chance de expandir o alcance de seus ensinamentos, levando sua mensagem a um público mais amplo e diverso.


É uma oportunidade para construir pontes que promovam não apenas o crescimento espiritual, mas também a conscientização sobre a importância de proteger os direitos e territórios dos povos originários.


O Caminho da União e do Respeito


Valorizar os saberes indígenas e integrá-los ao contexto ayahuasqueiro é um chamado à reconexão com o sagrado e à construção de um mundo mais consciente. Quando a sabedoria tradicional encontra o olhar respeitoso do mundo moderno, há a possibilidade de criar um caminho de união, onde o aprendizado se torna mútuo e a espiritualidade é vivida em sua plenitude.


Que esses encontros fortaleçam a preservação das tradições ancestrais, honrando os povos que as guardam, enquanto oferecem a todos a chance de se conectar com o poder transformador das medicinas da floresta e do saber indígena.


Convidamos vocês para vivenciarem esse momento de valorização da cultura indígena conosco.



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